sábado, novembro 26, 2005

A Traicao de Lisboa

Fechada, de repente, na caixinha dos pensamentos. Sem vontade nem capacidade de fuga, balbuciava respostas ao acaso: "Nao, sem queijo", "sao 10.30", "sim, vamos jantar". Sem saber porque, mas uma especie de tristeza...
Centenas de vezes palmilhei a rua Garrett. Quando trabalhava na Livraria, nas curtas horas de almoco, nao escapava ora um pastel de nata na Brasileira, ora uma espreitadela na Fnac. Admirava os cuspidores de fogo e os reflexos imaginarios inevitaveis a uma sofredora de astigmatismo, parava para ouvir os musicos de rua, olhava as vitrines, encontrava conhecidos ou, simplesmente, subia ou descia a rua numa especie de encantamento, distraida, no meu mundo... Em nenhuma dessas passagens reparei no patio interior. Um patio rodeado por predios de arquitectura moderna. Branco. Vazio. E uma torre de uma Igreja que destoa e intriga, ja que a sua existencia (a da Igreja) nao e' obvia. Embaraco... A Lisboa onde cresci e que tanto me inspira... Como e' que ainda nao tinha reparado?
Lisboa reserva surpresas e segredos que os meus olhos estao a comecar a aprender a procurar. Ate me refinar nessa arte, conto com os de Ignacio...

segunda-feira, novembro 14, 2005

Imagens Reais?


Nunca e' sem pavor que deixamos de ser para os outros a nossa propria medida e nos vemos confrontados com o padrao da realidade que exprimimos, e de que eles ignoram o verdadeiro tamanho.

-Miguel Torga

quinta-feira, novembro 10, 2005

Noite de Rebucados


Trazida 'as cavalitas pelo Andrew das barbas, entrei no auditorio maior.
Era uma noite especial.
A ma-lingua inevitavel de quem esta' num pais onde ninguem entende o nosso codigo linguistico teve de ser reprimida pois "eles andem ai". Portugueses dos Acores, de Faro, de Lisboa, com sotaque do norte 'a mistura com o de emigra, ingleses que falam portugues como os bebes... Quais criancas a espera de um rebucado.
Ela subiu ao palco. Senhora de negro. Os instrumentistas, em meia-lua 'a sua roda, ja' nos deliciavam com acordes tao familiares. E, naquela noite, o auditorio de madeira que parece uma caixa de sapatos transformou-se numa enorme sala-de-estar, um cantinho onde nao faltou o chourico e o pao caseiro (NB:trazido por POLACOS!) e a emocao.
Lagrimas e aplausos exigiram 4 encores. Dois belos poemas de Fernando Pessoa. A presenca e a voz que nos fizeram admitir um "orgulho em ser portugues". O climax com Primavera. A Mariza no Sage.


Sentir e' estar distraido.

-Alberto Caeiro, Fernando Pessoa

quarta-feira, novembro 09, 2005

Nao e' Bastante Nao Ser Cego


The real voyage of discovery consists not in seeking new land-scapes, but in having new eyes.

-Marcel Proust
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E nao do tamanho da minha altura.

-Alberto Caeiro, Fernando Pessoa

segunda-feira, novembro 07, 2005

Num Dia Como Outro Qualquer

Um dia de Outono como qualquer outro e uma enorme vontade de fazer uma coisa nova... Bichinhos carpinteiros na cabeca e na ponta dos dedos. Talvez uma maneira de me sentir mais proxima de uma certa meniina do mar...